31/08/2014

I - desacordousê

vou-te contar muadiê, ele fumava-se muito.

de nome num sei, mas todos lhe conheciam de Adolfo Dido.
todo ele era o smel da coisa e já nem era nuvem passagendeira, tava mermo sempre bué nas fofas nuvens! assim distraído e à porta não escancarada, porque não tinha nem era precisa por não haver nada que roubar, tudo era na cubata dele, de um arejamento mais que necessário.

este cavilo e grande viju, tinha nada que fosse por ele despercevisto. assim como se fosse as bumbas dele e lhe davam muito tempo de concentração, então ele, era tudo o que contemplacenava, tás a ver?

naquela tarde tudo tava bué de calmo... inté  cum muadiê que ia passejando por ali, ele galô.
inté que nunca antes o tinha ouvisto como passeiachado  por aquelas bandas levantando poeira nos carreiros.

pô... muadiê, aquele meu que ali vinha, era baita grande mermo, ou seria somentemente da nuvem baita grande de poeira que o trazia?
uma coisa era certa, a passada dele até que dava estremedura no chão e Adolfo Dido, acomotido de muitas devargações complicadas, chaminando fumos pelo nariz... inté a cabeça dele, cavilo, toda ela era fumaça que p'ralém do nariz, intéqui quiparcia sair pelos ouvidos, carapinha, tudo mermo...
desistiu da biula que lhe queimava os dedo e a pisou no chão.
de seguimento, feito engraçado... comicou, más puridemais alto e bom som que inté foi demais, abrotando sua umorisidade negra e escambida e, disse:

- sei não... quantos do povo vão precisar, quando ele um dia afundiar
- caixotão bué grande vão precisar, né?

o mêu passeijeante que nunca antesmente passeijeou por ali na banda, foi como não estivesse ouvisto, o que achemos estranho! no dia nascente deste contado, o meu bué dagrande, voltou de novo à banda e se dirigiu ao Adolfo Dido, assim do jeito direitamente, que como sempremente tava esfumaçando por todo o lado.  se encolheu cumedo, sabia não, das intenções do muadiê bué dagrande.

este, então,  lhe perguntou se podia deixar o seu cartão da apresentação... 

Adolfo Dido, sem conseguir dizer nada, dentes que os grosos lábios tapavam, matraca cerzida, somentemente acenou com a cabeça duma vez para cima, doutra para baixo, como quem diria que sim a tudo, acompanhando o olhar de alto a baixo do méu bué dagrande lhe tirando as medidas certas.


quando este se deslocou lentamente estremecendo o chão e levando a nuvem de poeira maior ainda que ele mermo, Adolfo Dido, que ler não sabia, perguntou na quitanda ao mais véio Djama que andou na missão aprendendo as letras e o deus dos brancos, o que dizcrevia o dito.

véio Djama soletrando com alguma dificuldade atravês dos olho de vidro, que um dia foram de seu ido patrão para o puto - falou e disse 
- é mais ou menos isso aqui:

"descida e ascenção, suave e sem estrilhos"

- agência funerária -

- caixões por medida -

- vamos ao domicilio -


vou-te contar,  muadiê...

Adolfo Dido assentou a magra bunda sobre os calcanhares, ali mesmo e para espanto do mais véio Djamba.
todas as dobradiças se fizeram ranger e, caiu num estatelão para não mais acordar. ficou olhando o céu que naquele dia estava imaculado. Céu é assim, quando carne e os ossos quebram e os olho ficam à janela que alguém sem medos poderá fechar, para que os espírito se desprenda da clausura comdivagar e carma dando tempo para que aja vagas lá em cima. velho Djamba se urgentou de cartão na mão, chamando pela presença do muadiê bué dagrande, que mal, mas ainda se avistava numa nuvem de poeira mais grande que ele mermo, lá onde a sanzala acabava e o mundo deles também!



(continuará... 


estória inspirada em "Quantas Madrugadas Tem a Noite" de:
Onjaky (escritor angolano)

2 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...


Que posso dizer eu que, entre "Laços e Rendas de Nós", compreendi tudo muito bem compreendido. Esta escrita, entre o leve linguajar e o trabalhoso 'viramento' da pujança linguística trouxe-me à memória os laços que ficaram lá atrás e as rendas das savanas cheias de quenturas.

Gostei e "continuará"?
Tem que continuar!

Beijinho

Unknown disse...

quibom "Laços e Rendas de Nós", teres entendimento dos sorrisos e essas malambas da vida vivida apreciando o cotidiano e gostando mermo.

vamos que vamos descalços por esses carreiros evitando os picos e kissondes que mordem bué e rindo dos maboques maduros que caem à toamente nos nossos cabeça.

Bjks e kandandos

Cávilos de Adolfo Dido